São dez da manhã, hora de fazer meu cardio de sábado pra gastar uma parte da minha energia. Mentalmente enquanto subo a escada eterna na academia, faço uma lista mental do que ainda preciso fazer pro almoço que preparei pras minhas amigas. Hoje aproveitei que tenho a casa só pra mim, pra reunir todo mundo no quintal, daquele jeito que homem é proibido de fazer parte porque as milhares precisam estar entre amigas e somente entre elas pra reabastecer o tanque.
Tem muito tempo que tenho arquitetado esse encontro na minha cabeça. De tanto ler e praticar coisas sobre criatividade, decidi que ia lançar um plano de 21 dias pra quem quisesse experimentar novas oportunidades de se conectar consigo mesmo, porque ser criativo é saber ouvir as respostas que existem ao nosso redor e é gostoso aprender a ser abrir pra isso. Nessa jornada que desenhei, incluí um encontro com as amigas pra fazer alguma coisa manual juntas: desenho, pintora, cerâmica, colagem, o que seja. Já contei aqui que o trabalho manual é uma ferramenta incrível pra você esvaziar a cabeça! Acho isso brilhante, porque criar sozinha é legal mas poder estar com quem a gente ama pra desanuviar no coletivo, é incrível também. Queria usar elas como cobaia. A primeira coisa que sempre se torna um parto: encaixar agendas. Não sei por ai, mas as minhas amigas andam ocupadas, navegando mudanças imensas na vida pessoal e se dedicando muito ao trabalho, porque somos todas profissionais liberais sofrendo com a crise financeira pós covid. Vejo todas nós aceleradas, tentando aprender a ressignificar a relação do tempo com trabalho, mas não dá pra ignorar que as contas seguem chegando.
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Uma tarde de vinho e cerâmica.
Fiquei pensando há quanto tempo não reúno algumas amigas ao mesmo tempo e cozinho pra elas. Acho que no meu aniversário foi a última vez e já fazem oito meses. Percebi que na verdade tem tempo que não me divirto com as minhas amigas. Encontro várias delas, fazemos jantares ou drinks, trabalho com algumas e sempre dá pra atualizar as histórias da vida, mas diversão? Não me lembro mais. Todos os meus últimos encontros foram pautados por grandes tristezas: pelo menos cinco delas se divorciaram esse ano, algumas perderam família, outras o trabalho. A gente sabe ser apoio e porto umas pras outras, mas não se tira tempo pra celebrar a vida e se divertir sem nenhuma conversa que traga lágrimas aos olhos. A vida é tão dura assim? As vezes. A gente que não aprendeu a descansar? Também. E se divertir, a gente sabe como? Me pergunto. Vejo grupos de homens marcando o futebol no sábado, se reunem pra ver algum jogo na quarta com dose dupla, alguns jogam video games juntos e tem mais outros tantos programas pra apenas se divertir, porque verdade seja dita, é de conhecimento público comum que homens não saem desabafando com homens, raras exceções, o tempo comum deles é mais divertido sim! Até o humor é diferente! Escuto muito que a quinta série não saiu dos caras, eles brincam com aquela mesma inocência, mas desde a quinta série eu ja cuidava de um bebê, vulgo meu irmão. Tenho amigas que enquanto os irmãos estavam na rua jogando bola, elas lavavam a louça e ajudavam no almoço. Percebo que desde cedo não houve espaço pra que juntas pudéssemos brincar sem nenhum peso nas costas! Aos 33 esse peso é ainda maior, como eu vou abrir espaço pra isso agora?
O que era um convite pra criatividade do meu plano de 21 dias virou um devaneio imenso na minha semana: porque mulheres ainda não se divertem tanto juntas? Porque carregamos o mundo nas costas e dividimos os pesos com outras mulheres sem fazer uma pausa pra rir até a barriga doer? De forma tímida e pouco consciente, tenho feito movimentações pra mudar isso com as minhas amigas. Esse ano tive a sorte de fazer um acordo com duas delas pra que a gente reservasse mais tempo juntas, e criar programas nas agendas pra que a rotina não nos engolisse. Um desafio real, porque exige esforço. Funcionou muito bem por um tempo, quase que semanalmente, até que grandes acontecimentos foram pedido espaço na vida de cada uma. Pra retomar é mais uma vez um ajuste e comprometimento. Difícil isso né? Até pra estar atoa a gente precisa se programar.
Consegui por alguns meses fazer aula de música com uma, que era risada atrás de risada! Uma coisa maravilhosa disso, era a garantia que nas sextas eu ia ver ela e que íamos ser felizes. Aprecio tanto o nosso esforço, espero que ela saiba! Também fizemos festa junina na casa de uma delas e na última hora surpreendi todo mundo comprando um bingo e prendas pra todo mundo. Foi uma delícia, a gente deu boas risadas! Dançamos um forrózinho e também partilhamos em volta da fogueira. Apesar da falácia que não fazemos boas amigas na vida adulta, tenho me aventurado a me conectar com novas mulheres, e que delícia! Esses dias recebi um convite pra correr e esse foi o programa que deixou o meu domingo feliz. Corri lado a lado com duas mulheres maravilhosas que também se superaram, que vibraram junto, que se divertiram comigo. Teve café da manhã e aquela fofoquinha boa quando a gente ta com quem faz bem pra gente. O esporte é um lugar que tem me trazido novas mulheres e novas dinâmicas de relação.
Bom, corta pra lista mental antes de receber elas aqui em casa. No meio da escada e das anotações práticas como "comprar pão”, abandonei a lista. Larguei mão de tudo que não tava pronto pra me concentrar no que era prioridade em servir pra elas. A verdade é que tudo que eu desejava era que na minha casa, nesse almoço, nesse momento que criei, elas fossem apenas felizes. Que o peso das costas ficasse porta afora, que elas falassem do que doesse sim porque somos todas ouvidos, mas que aqui fosse leve e que conseguissem brincar e ser feliz também. Desejava que diante da nossa presença, esse espaço se fizesse templo de cura no silêncio do coração de cada uma enquanto a gente de forma inocente e infantil molda a cerâmica fria no jardim da minha casa. Que a gente se autorizasse a descansar e rir. Que no meio do caminho alguém se levantasse pra dançar na sala, que eu posso felizmente te contar que naturalmente aconteceu. Teve muito riso, teve abraço, teve amor. Teve olho marejado, moqueca de banana e muita peça linda de cerâmica. Teve combinado de se ver jaja pra pintar tudo juntas, e ter mais um dia pra repetir o que alimenta a alma.
Pra essa semana eu desejo que a gente chore de rir da gente mesma e se lembre que a vida vai além da cicatriz. Que a dor não seja a maior pauta que nos atravessa, mas a busca pelos momentos que trazem felicidade genuína e aquela sensação de pertencimento, de que a vida faz sentido. Não tem receita certa mas fica mais fácil se a gente for testando o que dá certo. Aprender a descansar e brincar é urgente, nossa vida não pode ser uma sequência de grandes responsabilidades! É um grande esforço? As vezes vai ser, mas são essas as memórias que caminham com a gente, ou seja, vale a pena! Mas nada aqui é pra ser levado a sério né? Tudo não passa de um devaneio.
Beijos, até segunda que vem!
Sabe que tem um tempo? Talvez seja pela distância oceânica das minhas. Você me faz muita falta, amiga. E belíssima reflexão na news da semana. <3
eita, o último parágrafo me pegou demais! já quero marcar com as amigas tb. 😍💫