Eu gosto muito de livros que eu posso aprender alguma coisa com eles. Entre títulos variados, confesso que ao longo do ano passado perdi o meu fluxo de leitura. Comecei alguns títulos e tô arrastando o final deles a meses. Demorei a perceber que quando começo uma correria no trabalho, e o espaço pra lazer diminui, fico com muita preguiça de ser intelectual. É absolutamente normal que quando a nossa atenção esteja direcionada pra muita coisa, absorver informação de qualidade e aprender com aquilo se torna uma tarefa que demanda muita presença. E não existe presença no cansaço! Eu não sei você, mas quando exausta, minha mente sempre divaga demais. É comum que eu leia dois livros ao mesmo tempo, não porque com isso pareço mais culta, mas porque deixo esse livro complexo me arrastando e escolho um mais leve pra devorar. A verdade é que eu nem me dava espaço pra ler coisas mais bobas, porque como nunca foi uma grande leitora, quando adquiri esse hábito, queria compensar todo o meu tempo perdido com livros que todo mundo já leu, clássicos como Crime e Castigo, ou os mais famosos de crescimento pessoal como O Poder do Agora. Que besteira, meu pai! Podia ter me economizado horas de leitura e de psicológico que insistia em falar “você não é leitora de verdade se não gosta do que todos gostam”. Ainda bem que absorvi ultimamente que não preciso ser produtiva e estar sempre aprendendo ou provar capacidade ou inteligência com hobbys.
Inclusive, morro de preguiça de gente muito intelectual e culta. Precisamos urgentemente se permitir ser fútil de vez em quando. A vida é difícil demais e esses estereótipos ultrapassados de que gente inteligente ou com classe não canta funk, lê livro besta e assiste reality show tem que acabar! Esses dias uma influenciadora que eu sigo postou sobre o alvoroço que foi no perfil dela quando ela montou um look e foi pro Ensaios da Anitta, um show que antecede o carnaval mas já em clima de festa pagã. Alguns seguidores, novos com certeza já que ela sempre foi assim, ficaram horrorizados e a pergunta foi: como uma mulher com tanta classe e tanto refinamento, era fã de Anitta e ainda dançava passos coreografados a lá Tik Tok, como se isso fosse coisa de gente superficial. Existe em cada um de nós uma imagem pré definida das pessoas, como se elas fossem um personagem limitado, simples e nada contraditório, e essa nossa leitura errônea do outro é uma tentativa de coloca-las em caixas rotuladas pra facilitar nosso entendimento, mas as pessoas são profundas, complexas e não é nosso papel entender todo mundo. Minha irmã faz PhD em uma das melhores universidades do mundo, com amigos inteligentéssimos e intelectuais, que estão nesse momento discutindo o próximo paredão de BBB em um grupo no whatsapp. Ninguém é uma coisa só, e graças a Deus!
Talvez esse seja um conceito moderno sobre nós mesmos que precise ser aprendido. Na minha adolescência se você era roqueiro, você só podia frequentar aquele ambiente, se te pegassem no pagode já era, você virava uma pessoa sem nenhuma moral que a gente popularmente chamava de “poser”. E ser poser era um grande fardo, difícil de reverter e que gerava uma desconfiança geral acerca da sua personalidade. Na sua essência, o poser é aquele que finge o que não é com o objetivo de impressionar as pessoas. Aqui a gente assumia que a nossa personalidade era limitada a modelos prontos, como se fosse uma receita de bolo que você segue e alcança esse resultado. Roqueiros? Escutam rock, vestem preto e são rebeldes. Saem a noite, acordam tarde e usam drogas. Esse é o estereótipo, e qualquer coisa que fuja na contramão disso era considerado poser. Hoje em dia? Encontramos roqueiros coloridos, que acordam cedo e que também pertencem a outras bolhas como a fitness, deixando o entendimento mais complexo. É um exemplo extremo pra ilustrar que: a gente já não precisa mais ser uma só coisa ou parecer uma só coisa pra sociedade. Nossa evolução ao longo dos anos também é de julgamento e entendimento, e a grande graça da vida é se sentir livre pra explorar todas as suas versões sem querer que elas sejam coesa pros observadores.
Existem sim pessoas movida a desejo e ambição, que se camuflam nas ações e interesses pra pertencer a grupos sociais, fazer amizade com pessoas chave e crescer em cima disso. Tem também uma parcela grande de pessoas na internet constantemente vivendo de uma forma na tela, e outra na vida real, com o único objetivo de distorcer a percepção que as pessoas tem dela, a título de ganhar alguma coisa, mas não é sobre essas pessoas que eu quero focar. Não é pra essas pessoas que eu escrevo, é pra gente, que insiste em se transformar na melhor versão já vista, que abraça a profundidade dos interesses e transformações que atravessamos e que seguem na busca pela autenticidade como ferramenta pra felicidade. Todos nós queremos ser aceitos, mas ser o que não se é dá muito trabalho, diante de uma vida que já cobra tanto. Já exige muito entender quem eu sou e me permitir aflorar isso, imagina gastar tempo com outras coisas? O importante é que você pode ser culta e inteligente, sexy e cheia de classe, elegante e espiritualizada a ainda assim dançar o funk até o chão, assistir as Kardashians e escrever no whatsapp com os verbos mal flexionados. Você pode ser um ser humano impossível de decifrar, porque ninguém está tentando, já que estamos todos muito ocupados com o próprio umbigo, verdade seja dita. Seja preocupada com a aceitação de si, porque é difícil se deparar com todas as nossas facetas e interesses. A gente já se cansa tentando coordenar tudo isso mentalmente! Você pode ser tudo o que quiser mesmo que isso não faça sentido pra ninguém além de você mesma.
Mas nada aqui é pra ser levado a sério né? Tudo não passa de um devaneio.
Beijos, até segunda.
Te indico de olhos e ouvidos bem abertos
Os três livros bobos que devorei essa semana caso você também precise de uma futilidade pra voltar a ler.



O Lado Feio do Amor
Quando se muda pra casa do irmão, ela se apaixona pelo vizinho amigo dele que não fica com ninguém a 6 anos desde que algo muito ruim aconteceu na sua vida. Ela não sabe de nada, mas decide se aventurar apenas pelo sexo. Acontece que ela se apaixona por um cara indisponível e descobre o lado feio do amor. Um livro pra devorar em um dia!
Em outra vida talvez?
A história começa e a continuidade dela se dá em dois cenários: o que acontece com a vida quando você faz uma escolha? Os desdobramentos dessa escolha a cada capítulo, pra um lado ou pro outro. Em uma versão você se apaixona, na outra sofre um acidente grave. Acompanhar as realidades alternativas te faz pensar muito sobre as escolhas diárias.
Amor(es) Verdadeiro(s)
Imagina comigo o seguinte cenário: você se casa com o seu namorado da escola, vocês tem uma vida incrível juntos até que em uma viagem o helicóptero cai, todos morrem mas não encontram o corpo do seu marido. Você passa por um luto devastador e reconstrói a sua vida, fica noiva e um dia o telefone toca: seu marido está vivo! O resto você precisa ler mas se prepare pra só levantar do sofá pra ir ao banheiro! Delicioso de ler e a história te prende muito.
Me fez rir a hirtória de ser poser e lembrar que era assim mesmo hahaha.
“Não precisar fazer sentido pra ninguém, principalmente quando a gente mal consegue fazer sentido pra gente” tira um fardo das nossas costas, de precisar fazer um branding perfeito de nós mesmos. Eu amei!!! Um dos devaneios mais pertinentes atualmente ❤️