Sempre vivi num estado permanente de otimismo e felicidade. Apesar de encontrar meus obstáculos, eu sempre fui aquela pessoa que beira a chatice de tão positiva. Em corridas até o aeroporto, atrasada e esbaforida, eu dentro do meu coração tinha certeza que ia ficar tudo bem: eu iria embarcar mesmo que faltassem 20 minutos pra decolagem e os portões já estivessem fechados. E olha, essa visão foi alimentada pelo universo, porque foram incontáveis as vezes que meus santos abriram passagem e eu decolei. Já segurei a mão de quem eu amo em leito de UTI com essa mesma certeza, já vi dias de chuva se transformarem em cenários perfeitos de verão, já celebrei o que todo mundo jurava que ia dar errado. Acontece que ver o copo cheio, além de uma dose de personalidade, também tem muito a ver com a nossa maturidade. À medida que os anos passam e a vida acontece, com toda a sua força, os calos nascem e o copo se esvazia um pouquinho, é absolutamente natural. Passamos a ter mais medo, a pesar as decisões por mais tempo, avaliar com cautela cada passo. Só que nesse crescimento da nossa noção de mundo, pra muita gente vai ficando cada vez mais difícil ser feliz! Queria que fosse um dado imaginário da minha cabeça, mas de acordo com o Escritório Nacional de Pesquisa dos EUA, a infelicidade cresce após a adolescência em uma curva que o ápice está no final dos nossos 40 anos, onde provavelmente a gente se liberta de alguns conceitos e se permite desfrutar melhor da nossa própria existência.
A verdade é que a felicidade é um estado de espírito que exige treino. O que foi vendido como espontâneo a vida inteira, na verdade é um exercício diário, que permite que a gente quebre essas estatísticas. Porque é tão difícil se sentir feliz nos dias atuais?
Vivemos constantemente no passado.
A gente analisa os nossos erros, deseja voltar no tempo e refazer os passos, faz comparações do que viveu em diferentes circunstâncias com a vida presente que no fundo pouco se assemelha ao passado. Se você revisita demais o passado, começa a ter medo de errar e se permite ser engolido por esse sentimento.
Não vivemos o presente.
A nossa dificuldade de estar realmente no tempo presente nos faz perder na minúcia do dia a dia aquilo que tem de mais precioso na vida. A vida não é um ensaio! Você só tem hoje, porque o ontem já foi e o amanhã pode não vir.
Vivemos correndo.
O tempo moderno só tem uma velocidade se você permite. Tudo é pra ontem e tudo é urgente. Nessa correria insana, não sobra tempo pra agora.
Perdemos a noção de realidade.
A vida real é uma concepção deturpada. A gente foge do passado, fantasia o que já viveu, tem dificuldade de encarar a própria realidade pelo que ela é e não o que inventamos dela pras pessoas, pro mundo virtual, na tentativa de amenizar as dores ou os processos. Fingir que tudo está bem também é negar a sua realidade.
A comparação nos rouba as oportunidades.
É mais fácil seguir o caminho da “injustiça” do que entender que a jornada pessoal de cada um não pode ser comparada. Ninguém parte do mesmo lugar que você, então o tempo de chegada de cada um será diferente. Querer que a nossa vida seja como a de outras pessoas é se sabotar todos os dias. Esse hábito da comparação faz a gente se colocar constantemente pra baixo, gera insatisfação com a gente mesmo e nos afasta da visão de uma vida feliz porque quem nunca está satisfeito não e capaz de apreciar o que tem.
Você não sabe o que quer e não prioriza nada.
A maioria das pessoas não tem uma visão real do que desejam pra si. Entre a perda da noção de realidade e a comparação, querer o que o outro possui virou o objetivo pessoal de muita gente. Seu ponto de chegada é a concepção de felicidade de outra pessoa, mas será que você vai ser feliz ali também? Sem saber o que você quer não é possível priorizar! O que é importante na sua essência, vai se exteriorizar no seu objetivo, dessa forma você vai satisfazer a você mesmo!
Condicionar a felicidade ao futuro.
Quantas vezes você já pensou que vai ser mais feliz quando comprar aquele carro? Ou fazer aquela viagem dos sonhos? Ou vai ser mais feliz quando emagrecer, ou quando namorar alguém? Quando se mudar da casa dos seus pais ou adotar um cachorro? É comum que peguemos um grande objetivo de vida e transformemos ele no marco da felicidade, e nada antes disso vai ser tão bom, mas a felicidade não é uma chegada e sim uma caminhada longa.
O que mais me deixa espantada é pensar que esse ciclo acontece naturalmente, e que se a felicidade é um redesenho desses hábitos, isso significa estar consciente a cada dia daquilo que verdadeiramente vale a pena é o caminho pra sentir a leveza de uma vida feliz. Me sinto roubada, pra ser bem sincera, porque a raiva, a inveja ou a tristeza, são sentimentos que eu não preciso trabalhar nada em mim pra sentir, eles simplesmente chegam sem nem serem chamados. E a felicidade virou essa grande busca inalcançável que ainda foi mercantilizada pelo capitalismo. A gente sabe cientificamente que vai ser mais feliz se meditar, mas calma, você vai meditar melhor com um tapete de yoga de trezentos reais, uma vela cheirosa, um incenso gostoso, cristais comprados em loja e por ai vai. E o que era pra ser bem simples, virou uma corrida pra ganhar mais pois “tudo que me traz felicidade custa muito caro”. E tá ai a maior luta consciente que precisamos fazer! No fundo a gente sabe que não precisa de nada, mas quer condicionar os hábitos ao que tem de produto vendido pra “melhorar ele”. Especialmente nessa realidade onde as pessoas buscam a validação e a comparação com as outras, ter os hábitos fotografados com o que tem de mais novo e lindo no mercado, gera prestígio. A busca por uma vida leve e feliz é um grande status social diariamente fotografado na sua minúcia, o que inclusive me fez parar de postar tanta coisa.
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Das coisas que me fazem muito feliz.
Eu tenho uma amiga que sempre me diz que eu faço o ordinário do dia a dia parecer extraordinário, justamente nas postagens diárias, e esse é um dos elogios que eu mais guardei no meu coração nos últimos anos. Ela me disse isso pela forma como eu olho pro tempo presente com beleza, pro PF do almoço, as árvores no caminho, o banho no cachorro, as pedras que os meninos catam pelo passeio. É a tal romantização da nossa vida que, sem querer e sem saber o nome, eu já fazia. Esse mindfulness na própria realidade! A grande realidade é que todos temos essa capacidade de olhar de forma poética pra própria vida, a gente só não pratica muito. E esse é um dos caminhos pra sentir satisfação com a construção pessoal que você trilha, não pra postar e nem fotografando, mas registrando essa leveza na sua mente mesmo. O que me cabe fora dessa roda da felicidade como produto é seguir essa lista aqui: celebrar sempre que possível com orgulho de toda e qualquer conquista; descansar meu corpo e minha mente; organizar a vida pra tirar o que não me faz feliz e quem atrapalha a minha felicidade; manter meus valores e deixar que eles guiem minha ações; sorrir sempre, porque sorrir muda o nosso humor e o nosso dia; tomar o controle pra mim mesma, sem procurar validação nas pessoas e partilhar, porque dividir é uma das formas de espalhar a alegria ao meu redor e perpetuar isso. E nada disso custa nenhum real!
Encontrar a felicidade é sim difícil mas é possível! Quanto mais tempo você passa buscando a si mesmo, o que te move e o que você ama fazer, mais fácil de sentir ela no seu dia a dia. Se a sua prioridade de vida está nítida e alinhada, você vai fazer suas ações girarem ao redor disso e a cada dia a satisfação de estar onde você sonhou vai te trazer mais sentimentos que nutrem a alegria de estar vivo nesse tempo presente. Esse ano eu prometi pra mim mesma que ia priorizar a minha família, porque em algum momento do ano passado eu deixei o trabalho me atropelar. A cada almoço, a cada bilhete na lancheira, a cada adultice chata que faço por eles na minha rotina, mais me sinto feliz. E olha que eu odeio adultice mas é satisfatório demais levar seu filho pra fazer raio x da boca, porque você quer estar ali cuidando do seu tesouro e você ta conseguindo. Ou seja, tudo fica mais claro quando a gente sabe o que faz a gente feliz, mesmo que no meio do caminho as coisas chatas nos encontrem, elas vão ser minimamente satisfatórias.
Pra fechar essa segunda de carnaval, faça aí uma lista das últimas dez vezes que você se sentiu genuinamente feliz e porquê. Tenta entender esses lugares e o porque deles existirem. Eles falam com as suas prioridades? Eles te permitiram estar presente no agora? Você estava celebrando? Um exercício ativo pra quem também busca estar perto de si e desvendar esse mistério que é ser gente que ama a si mesmo.
Mas nada aqui é pra ser levado a sério né? Tudo não passa de um devaneio.
Beijos, vamos ser felizes? Até segunda.
Te indico de olhos e ouvidos bem abertos
Mel Robins e a felicidade
Esse episódio do meu podcast favorito fala exatamente sobre o tema de hoje e vale muito a pena ouvir! Ela convida a Dr. Judith Joseph pra mudara sua ideia sobre felicidade e deixar várias dicas e perguntas interessantes pra você pensar nesse tema com mais profundidade.
Scientific American
Eu adorei esse artigo sobre a dificuldade de ser feliz e acho que ele aborda pontos super importantes que eu nem consegui trazer pra cá pois esse tema daria um podcast enorme (alô Mel). Principalmente a questão de colocar condições na felicidade. Maravilhoso!
Sou apaixonada pelos momentos extraordinariamente ordinários!
Extraordinario encontrar essas palavras nessa segunda de carnaval.